by PAULINO LEGAL COMUNICAÇÃO INTELIGENTE

PAULO AZEVEDO

PROJETO DE COMUNICAÇÃO SOLIDÁRIA

Diante do cenário capitalista consumista que associa a felicidade à beleza e acesso aos bens de consumo, grande camada da população sofre de exclusão social. A exclusão social não é meramente um caráter econômico, é uma questão étnica, de cor, de religião de saúde ou doença. A cada dia as pessoas trabalham mais em prol de si mesmas e de sua família para ‘pertencerem’ a um setor social que lhe confere certo status. Para dar oportunidade aos setores excluídos, proposta de uma comunicação solidária vem na contramão do consumismo no sentido de levar às pessoas a esperança de uma sociedade mais solidária e fraterna. O termo seria ‘plebicidade’, a publicidade da plebe, entendendo plebe, todos os setores marginalizados, trabalhando juntos nos espírito do respeito e da inclusão da diversidade. Fraternidade na diversidade.
Um dos grandes inimigos a serem enfrentados é o mercado, pois no SUS, as coisas andam de certa forma, mas no Brasil, onde o mercado é liberal é não aceita intervenção do Estado é que as cosias complicam. Ainda existem muitos hospícios privados, onde existem práticas cruéis e tiranas, com abuso de eletrochoque. Como pressionar o Estado a intervir no mercado?

2. ANÁLISE DA CONJUNTURA PUBLICITÁRIA NACIONAL

Mesmo com as imensas dificuldades que o Brasil passou e ainda passa para a construção de uma sociedade mais justa, nosso país sempre foi destaque no cenário publicitário nacional. Com grande criatividade, irreverência e humor, os publicitários encantaram e encantam o mundo com a criação e a produção de vídeos publicitários de grande qualidade. Isso deveria ser motivo de orgulho, mas não é: pois com todo este glamour não conseguimos vencer a miséria, os preconceitos e a exclusão social da nossa ideologia capitalista, consumista e religiosa.
Nossos comerciais, com todas as características descritas, ainda é muito excludente. A maioria associa a imagem da felicidade, de família feliz e plenitude com consumo de bens e serviços, e numa proposta bem sedutora as famílias desses comerciais são quase sempre brancas, crianças de olhos azuis e mulheres loiras bonitas. O negro também aparece, na sua maioria em campanhas publicitárias de ajuda humanitária como Criança Esperança. O negro é lembrado nas campanhas quando se precisa comover para atrair doações.
Para mudar este perfil publicitário de consumo e de comoção, a proposta é usar pessoas reais, com suas próprias vestimentas, num espírito de unir a diversidade, numa linguagem natural para proporem as suas lógicas excluídas nas produções vídeos. Um exemplo seria mostar numa mesma roda, um louco, junto com um transexual, junto com um aleijado, junto com um anão...., todos de mão dadas fumando o cachimbo da paz e cantando a música do Gabriel o Pensador. Isto é para destacar a questão da humanidade e da humanização social, pois os excluídos são interpretados pela sociedade como seres inferiores, mas são pessoas com sentimento. O espírito e começar a construir espaço de visibilidade para quem é invisível.

3. EXPERIMENTÇÃO DE LINGUAGEM

Atualmente vivemos numa época de muitas informações de todos os tipos: visuais, sonoras, escritas. Para não fazer igual, simplesmente copiar o que já existe, a proposta é reinventar, recriar a linguagem, fora das imposições estéticas atuais. Hoje, já existe a linguagem dos vídeos e das fotos de celulares, ao mesmo tempo a lógica da falta de paciência e da velocidade de consumo das informações. Sabemos que em 30 segundos ou 1 minuto dá para fazer um curta-metragem com início, meio e fim. Como temos muito material e não cansar os nossos expectadores queremos fazer filmes de no máximo 30 minutos e chamadas de 30 ou 60 segundos a ser postado nos canais da internet, com o objetivo de facilitar o acesso e popularizar a informação que propomos.

4. CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E O PITORESCO

Os critérios de noticiabilidade são vários e dependem de várias teorias o jornalismo e questões ideológicas das linhas editorias. Dentro de umas questões que escolhem a noticiabibilidade, ou seja, o que deve ser mostrado, está a questão do pitoresco, do diferente. Com esses critérios a marginalização tem espaço na mídia, mas sempre aparece como minoria, como o não comum, ou como o ridículo. Os marginalizados têm espaço nos programas de humor, de uma forma caricata. O objetivo desse projeto é mostrar que as minorias são a maioria que querem ser como a minoria. Mostrar os marginalizados de uma forma diversa, fraternidade na diversidade, para mostrar seres humanos com sentimentos e desejos.

5. PROCESSO DE PRODUÇÃO PARA OS USUÁRIOS DE SAÚDE MENTAL

Assim como já vem sendo feito, estimular ou aproveitar a arte dos usuários no vídeo, interpretação, poesia, ou o que tiver para aproveitar. Os depoimentos também são bons, mas a arte é melhor, pois muito depoimento provoca um esvaziamento e chega uma hora que começa a forçar a barra. Se muitos usuários participarem, pode-se produzir DVD’s de até 30 minutos no máximo, sem uma perspectiva de continuidade, mas uma perspectiva de mesclagem de diversidade, onde um DVD pode ter, por exemplo, a arte interpretativa de 5 usuários. É melhor vários DVD’s de 30 minutos mesclado do que um de 1 hora contínuo. Fica mais fácil divulgar e desmistificar o mito da incapacidade do louco. A produção de DVD’s não
impede de postar os vídeos no Youtube, pois o que importa é atacar em mais frentes de batalha possíveis.

6. PROCESSO DE PRODUÇÃO PARA TÉCNICOS DE SAÚDE MENTAL - PERFIL

As pessoas que resolvem ser técnicos de saúde mental num serviço substitutivo ao manicômio precisam ter um motivo para preferirem a humanização, a liberdade, ao invés da prisão, da tortura e da opressão. De uma maneira genérica os técnicos de saúde mental que respeitam os usuários de saúde mental entendem a dor da opressão, pode se dizer que a fronteira entre um usuário de saúde mental e um técnico de saúde mental é Tênue. Para entender o universo do técnico de saúde mental, e os seus motivos de engajamento na Luta Antimanicomial é bom levar ao público os seus motivos. A idéia é traçar um perfil dos técnicos. Para traçar o perfil dos técnicos é bom ter uma conversa em off (apuração), saber da família, infância, adolescência, escolha da profissão, crenças, motivos e história no movimento. Depois de feita a apuração preparar tópicos com uma espécie de pergunta para o técnico dar um depoimento. Fazer isso com vários técnicos e depois fazer DVD’s de no máximo 30 minutos com depoimentos de vários técnicos misturados. Todos os depoimentos de técnicos serão diluídos em vários DVD’s. É melhor vários DVD’s de 30 minutos com depoimentos mesclados que um muito grande com toda a história. Alguns técnicos históricos que merecem ser contemplados. Mais a frente outros técnicos também podem ser gravados. Algumas sugestões de técnicos são:

Mesmo fazendo esta produção no DVD’s, não é impedida a postagem no youtube, pois, como já dito, o importante é atacar em várias frentes.

7. BREVE HISTÓRICO DO HOSPITAL PSIQUIÁTRICO

Quando os indesejados são mandados para o hospital psiquiátrico, sofrem muita violência e opressão até se renderem, a idéia é mostrar ao indesejado que não é possível lutar contra o sistema psiquiátrico. O que resta é se render ou fingir que se render para se tornar um aliado da instituição e seguir as regras impostas. Isso acontece porque não existe espaço para a diferença. Por esse motivo os técnicos se reuniram e criaram os CERSAM’s, Centros de Convivência e Residência Terapêuticas, isso é o início do fim do hospital psiquiátrico. Ainda existe outro problema, pois mesmo com a Luta Antimanicomial, o Estado não intervêm no mercado porque a nossa economia é liberal, então continuam-se construindo clínicas e ‘aprimorando’ técnicas de eletrochoque. Como fazer pressão para o governo intervir no mercado da loucura?

8. HOSPITAL ESPÍRITA, CUMPLICE OU VÍTIMA DA PSIQUIATRIA?

Antes de falar da psiquiatria espírita, vamos ler o texto de Chico Xavier:

PARENTES DIFÍCEIS

Aceite os parentes difíceis na base da generosidade e da compreensão, na certeza de que as leis de Deus não nos enlaçam uns com os outros sem causa justa.
O parente problema é sempre um teste com que se nos examina a evolução espiritual.
Muitas vezes a criatura complicada que nos agrega a família, traz consigo as marcas de sofrimento ou deficiências que lhe foram impostas por nós mesmos em passadas reencarnações.
Não exija dos familiares diferentes de você um comportamento igual ao seu, porquanto cada um de nós se caracteriza pelas vantagens ou prejuízos que acumulamos em nossa própria alma.
Não tente se descartar dos parentes difíceis com internações desnecessárias em casas de repouso, à custa de dinheiro, porque a desvinculação rela virá nos
processos da natureza, quando você houver alcançado a quitação dos próprios débitos ante a Vida Maior.
Nas provocações e conflitos do lar terrestre, quase sempre, estamos pagando pelo sistema de prestações, certas dívidas contraídas por atacado.

André Luiz

Como se pode ver a psicografia de Chico Xavier, pelo espírito de André Luiz, não manicomial, pelo contrário, ele recomenda amor aos parentes difíceis. Ao contrario do que se prega, vemos o movimento espírita sustentar com orgulho hospitais espíritas onde a hegemonia é médica, com internação em grandes hospitais e uso de eletrochoque. Porque não buscam alternativas? São cúmplices ou vítimas da psiquiatria?
A literatura espírita é vasta. Porque não existem livros mediúnicos sobre Nilse da Silveira, Franco Baságlia, Michel Foucault, Artur Bispo do Rosário e outros? Será que o movimento espírita que tem tantas palavras de amor para trazer para a humanidade, não teria uma palavra de esperança e liberdade para os loucos? Será que eles acreditam que os loucos não merecem ter um espaço honrado na sociedade? Então o movimento espírita é uma farsa, pois os dirigentes se venderam à psiquiatria, simplesmente por dinheiro?
Por que os espíritas não trocam os hospitais espíritas por arte mediúnica nos Centros de Convivência, nos CAP’s e nos Pontos de Cultura? Será que existe essa vontade de promover a inclusão do louco?

9. REFLEXÕES SOBRE A INCLUSÃO DO NEGRO

Desde o início da colonização do Brasil o negro pode ser escravizado com apoio da igreja, a religião oficial da época dava respaldo à escravidão anunciando pelas escrituras bíblicas que o negro podia ser escravizado, pois não tinha alma. A mesma igreja pregava que os índios tinham alma, mas só a partir do momento que fosse evangelizado. Total crueldade e tirania! Com a abolição da escravatura, os negros não conquistaram o direito de trabalhar e nem de usar a terra, daí o início das favelas. Para sobreviver num mundo hostil e preconceituoso aos negros aos negros, que inclusive levavam alguns ao suicídio, os negros se uniram e se organizaram para elevar a auto-estima. Nessas organizações de negros surgiram as ações afirmativas, o dia da consciência negra, a cota para negros no mundo do trabalho e nas universidades. Com o tempo, surgiu uma espécie de resistência e o orgulho de ser negro, sem precisar imitar a casta ‘superior’. Graças às cotas para negros conquistaram espaço no mercado de trabalho, que antes eram apenas reservados aos ‘superiores’. Hoje tem uma polêmica quanto às cotas na sociedade que não aceita ter uma dívida social com essa ‘minoria’ marginalizada e tratada com crueldade por séculos. O que os negros querem e serem tratados com respeito e dignidade.

10. REFLEXÕES SOBRE A INCLUSÃO DE GÊNERO

A população LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis) sempre foi descriminada por uma moral religiosa, lembrando que Jesus pregou, amai uns aos outros como eu vos amei. Essas pessoas sofriam o estresse de ter de manter as aparências construindo uma família tradicional e praticando a sua sexualidade escondido. Os que não podiam esconder eram condenados à morte, os que não morriam não tinham direito ao trabalho sendo condenados à prostituição para sobreviver. Hoje o movimento LGBT teve grandes conquistas e o que eles querem é poder se aceitar sem serem ridicularizados e também serem aceitos com respeito, dignidade e direitos e deveres. Isso é ser honrado pelo que é e não pelo que tem. É existir espaço para essa população (‘minoria’) no mundo.

11. REFLEXÕES SOBRE A INCLUSÃO DO LOUCO

O louco, o contestador, o improdutivo para a indústria e outros são levados para os hospitais psiquiátricos para sofrerem violência física e moral para se renderem e aceitar o que a família e a psiquiatria querem lhe impor. Não existe espaço para loucura no mundo. O único espaço para o louco é o da mortificação do eu dentro de uma instituição total. Na contra mão da exclusão surgiu a Luta Antimanicomial que construiu serviços substitutivos para promover a loucura à cidadania. A Luta Antimanicomial construiu os CAP’s com a possibilidade de permanência dia e noturna, os Centros de Convivência para promover encontros entre os ‘loucos’, com direito à exercer a sexualidade e ter uma ocupação fora dos moldes industriais de produção de massa. Construiu a possibilidade das Cooperativas de trabalho para terem uma vida com dignidade e renda e também as Residências Terapêuticas. O louco só quer ser aceito com respeito e honra e poder se aceitar para poder levar uma vida com um peso menor do que o da cultura de segregação e preconceito o submete. A inclusão dos loucos é um processo de construção permanente, tanto de espaços na cidade quanto de cultura de solidariedade.

12. PONTOS DE CULTURA, O 4º ESPAÇO

Assim como foram criados os serviços substitutivos com os CAP’s, Centro de Convivências, Cooperativas de Trabalho e Geração de Renda e as residências terapêuticas, com o tempo surgiram mais uma opção, os pontos de cultura. A Luta Antimanicomial sofre muitos ataques da indústria da loucura que ganha e ganhava muito dinheiro com internações (depósitos de pessoas). Num movimento de resistência constante para não esmorecer, vieram os pontos de cultura que não são exclusivo dos loucos, mais é um lugar a mais para construir a cultura da solidariedade, da inclusão. È um espaço a mais para chegar mais perto da ‘civilização’. Não se pode deixar morrer essa possibilidade e ampliar sempre a nível municipal, estadual e Nacional.

13. A CLÍNICA ANTIMANICOMIAL E O SUICÍDIO

Já que se propõe a socializar os loucos, para dar sustentação à essa lógica precisa-se de uma prática da clínica Antimanicomial, mais humana que ajude os loucos a se aceitarem para não ficarem buscando eternamente o que não alcançarão. Também uma sociedade mais solidária, fraterna e humana que faça que Ester ‘loucos’ se sintam cada vez mais um peso e vejam como única saída a morte em vida (drogas, alcoolismo, auto abandono...) ou o suicídio. Ser louco, além do sofrimento da própria loucura, traz o sofrimento da humilhação, da desonra, da vergonha, que muitas vezes faz essa pessoas escolherem a morte. As clínicas de recuperação pregam um ideal a ser alcançado, inatingível que fazem os loucos se sentirem inferiores e incapazes. A única saída é se aceitar, mas para isso é preciso mudar a cultura da ridicularização e do preconceito. Fica aí uma reflexão sobre o suicídio:

SUICÍDIO

Caso um dia eu me mate, a mensagem que quero passar é a seguinte: Adeus, fodas para os cruéis e tiranos, para a crueldade e a tirania. Agora eu sou maior que vocês. Agora vocês não me atingem mais.

Paulinho Legal